Introdução: 

Como pode um obreiro de Cristo esquecer-se dele, uma vez que é para o Cristo que se trabalha, prega? 

Elucidação: 

Haveria alguma coisa na igreja de Éfeso que poderia levar o jovem obreiro, Timóteo, a se esquecer para quem trabalha? 

Paulo nunca iludiu a Timóteo acerca da vida cristã nem das lutas que cercam a vida dos obreiros de Deus. Basta-nos uma leitura detida e verificaremos o incentivo ao moço. O conselho e incentivo são dados por experiência pessoal e que, antes de contribuir para o desânimo, envolve uma atmosfera de gratidão e alegria. Paulo insere às dificuldades da vida cristã recompensas por vencê-las 

Paulo conhece a igreja onde Timóteo está. Sabe da rejeição sofrida e do crescente número de hereges nela. O que isso promove num obreiro como Timóteo? Há, de antemão, um conselho imediato de Paulo ao moço, talvez, resultado de experiência com o Senhor Jesus: “não se esqueça de Jesus”. Ora, não é este Jesus toda a inspiração da vida de Timóteo? Como esquecer o poderoso Salvador? Nos dois capítulos encontramos o que pode provocar uma “amnésia” na vida de qualquer obreiro: 

(1) – Fraqueza (2:1); (2) – sofrimentos; (3) – vergonha provocada por expectativa errada (1:8); (4) – rejeição que inibe a potencialidade pessoal (1:6). Não seriam esses consideráveis motivos para um jovem se esquecer do essencial (Cristo) e agir por si mesmo, acreditando que tudo depende de si e de seus esforços? . O “lembra-te de Jesus Cristo” do apóstolo não tem significado literal, mas quer insinuar ao obreiro que: 

Tema: Cristo Jesus é o que faz com que o crente nunca desista do que fora confiado. 

Há no conselho de Paulo três lições que apontam a importância de lembrarmos de Jesus: 

I – Cristo nos lembra que com Ele somos mais fortes (1,10): 

“Fortifica-te” – “aumenta o seu poder na graça de Cristo”. O que se transmite aqui é que o crente não é forte por aquilo que sabe ou que estuda ou experiência (Jo. 15:5). Nem sempre essas coisas ajudam nas lutas, mas quando recorre à graça de Cristo quando em fraquezas. O poder de Timóteo não é a sua força da juventude nem o fato de ser “filho na fé” de Paulo, mas, segundo o próprio apóstolo, é o poder que se recebe na graça do Cristo Ressuscitado. 

Nenhum discípulo ou apóstolo, nenhum homem de Deus na história cristã conseguiu qualquer êxito de pé, mas todos conseguiram de joelhos pedindo graça ao Senhor. Lembreme-nos do testemunho do sábio Paulo (II Co. 12:9). 

II – Os nossos sofrimentos nos recordam que os nossos, arrostados ao Dele, nada são (8,9,10): 

O combustível paulino é a memória de que o seu Evangelho prega a um Cristo ressurreto. Provas? v.9: “estou algemado por pregar um Evangelho que não se prende”. Mas qual preço esse Evangelho triunfa? (1) Ao preço da morte de Cristo, (2) ao preço da vida dos crentes. Por que Paulo vence? Observemos o v. 7: “pondera, i.é, deixa-te convencer por isso”. A Palavra de Deus não estava nem acima nem abaixo de Paulo, estava dentro de seu coração. 

O sofrimento de Cristo, sendo Deus e homem (filho de Davi) é o que deve levar o crente a viver a vida cristã com obediência, levar o obreiro a ser fiel e resoluto ao chamado (1:8). Ora, só ressuscita dentre os mortos quem morre (Hb. 2:10, 14,15; 4:15)! 

Se Cristo sendo filho de Deus sofreu por fazer a obra do Pai, nós, seus servos seremos menos poupados. Mas olhemos para a cruz (Hb. 12:1-3) donde vem-nos não só o poder da graça, mas o estímulo para continuarmos fiéis. O apóstolo Paulo utiliza-se, aqui, de três metáforas para ilustrar a carreira cristã. Observemos que nas três metáforas a figura é de suor, mas também, de compensação: Tal como (1) – soldado: o crente deve estar disposto a enfrentar as dificuldades; (2) – atleta: o crente deve obedecer as regras, ter disciplina (I Cor. 9:27); (3) – agricultor: o crente deve trabalhar afim de obter resultado deste trabalho. 

III – Ele nos faz confiar que a Sua obra é dependente Dele e, não do obreiro (9,13): 

Paulo tem uma visão incrível do evangelho e procura passá-la a Timóteo (7). Timóteo um dia entenderá. O que deveria demonstrar fraqueza, segundo o apóstolo é poder. Verifiquemos: (1-6) é o caminho por onde se chega à glória; (9,10) as algemas de Paulo são as chaves que abrem os grilhões dos que estavam perdidos. O Evangelho triunfa apesar de Paulo, da prisão, das fraquezas. O Reino de Deus usa homens, mas não depende destes. É o Reino de Deus e não dos homens. 

Por toda história bíblica, quando um homem de Deus morria, Deus já havia preparado outro sucessor. A obra é de Deus. Paulo está preso, sofrendo, caluniado, mas o Evangelho triunfa (Fil. 1:12ss)! Tudo o quanto o jovem Timóteo precisa é se lembrar do Jesus Cristo Ressuscitado! A Igreja não perde o dono (Mt. 16:18)! 

Conclusão: 

“Lembre-se de Jesus Cristo[...].” Num primeiro momento para descansar nossos corpos na graça. Num segundo momento para sossegarmos os gritos de nossa alma por alívio de lutar e senso de justiça. Olhando para Aquele que nunca pecou, quem sou eu? Mas também para num outro momento adquirir ânimo e confiar que, por mais capacitado que eu seja, por mais dotado de dons seja o crente, a obra não depende de mim, mas de Cristo. Sem Ele eu nada posso fazer. Paulo lembrou a Timóteo disso.