Abraão foi justificado pela fé.

13:26Apenas Evangelho

Flávio Santos

(Romanos 4.1-25)

No final do capítulo três de Romanos, Paulo disse que a justiça de Deus foi testemunhada pela Lei e pelos profetas. Então, no capítulo quatro, mostra um testemunho de fé do Antigo Testamento, Abraão. No final do capítulo três, Paulo também faz uma pergunta sobre onde ficaria o orgulho se alguém fosse justificado somente pela fé. Ele responde dizendo que todo orgulho fica excluído porque a justificação é pela fé e não pelas obras da Lei. Em seguida, no capítulo quatro, mostra o exemplo de Abraão que não tinha do que se orgulhar porque foi justificado pela fé somente.

No versículo primeiro, Paulo faz duas perguntas sobre a justificação de Abraão e as responde no restante do capítulo. Na sua resposta, usando o exemplo de Abraão, podemos entender que, no Evangelho, não há espaço para a glória humana, apenas para a fé.

Abraão foi bem-aventurado (abençoado) pela fé na justiça de Deus (vv.1-8). O patriarca não foi justificado por obras, não há do que se orgulhar (vv. 1,2). Abraão é a resposta das perguntas do final do capítulo três. Ele não tem do que se orgulhar porque não foi justificado pelas obras. Ele creu antes da Lei. Foi justificado por fé. Abraão, supunham os judeus, tinha do que se orgulhar pela sua justificação pela carne, ou seja, pela circuncisão. Mas Paulo mostra que ele foi justificado antes do sinal da aliança.

Abraão é o exemplo do Antigo Testamento de justiça pela fé (v. 3). Paulo disse que a justiça de Deus é testemunhada pela Escritura. Assim sendo, usa a Escritura para mostrar que Abraão recebeu a promessa do herdeiro pela fé. (Gn 15). Os judeus usavam esse mesmo texto para mostrar que Deus tinha uma dívida com Abraão porque ele permaneceu fiel. Suas obras garantiriam sua justificação.

Abraão creu e lhe foi atribuída a justificação pela fé por graça (vv. 4, 5). Paulo usa o exemplo do trabalhador que recebe seu salário como dívida do seu trabalho. O empregador tem uma dívida com o trabalhador. Já Deus não tem uma dívida com as pessoas. Não trabalhamos para receber a justificação. Ele concede a quem crê na sua justiça.

Paulo usa o exemplo do Salmo de Davi (Sl 32.1,2) para mostrar que Deus não atribui pecado a quem tem fé, mas justiça que perdoa os pecados. “Pecados cobertos” é uma expressão que mostra a maneira como Deus trata os pecados, cobrindo-os com a sua justiça. A ideia não é esconder, mas perdoar. 

Sobre quem foi atribuída a bem-aventurança da fé para a justificação? Circuncidado ou não circuncidado? Abraão a recebeu quando ainda não havia sido circuncidado (vv. 9,10). Paulo mostra que a bênção da justificação veio sobre Abraão enquanto ele ainda não havia sido circuncidado. O meio pelo qual a recebeu não foi a circuncisão, mas a fé. Sobre a fé de Abraão foi creditada a justiça de Deus. Ele recebeu a promessa sem o sinal da aliança. Ele só foi circuncidado 29 anos depois da promessa? O salmo 32 não era somente para os judeus, mas para quem tivesse fé.

Abraão recebeu a circuncisão como selo quando ainda não havia sido circuncidado. Ele é pai dos que creem. A justiça foi atribuída a eles (v. 11). Abraão recebeu o sinal como um selo de quem creu. É o selo da justiça da fé. A circuncisão era uma marca da aliança de Deus com o seu povo. Por isso, Abraão é pai de todos os que creem sem a circuncisão. Paulo mostra isso para dizer que a justiça de Deus é atribuída aos gentios pela fé. Não pelas obras da Lei e pelo sinal da circuncisão. Nessas coisas estava a confiança dos judeus. A marca da aliança é um selo da fé.

Abraão é pai da circuncisão, daqueles que não têm apenas o sinal, mas andam em fé (v. 12). Paulo não exclui os judeus que têm o sinal da aliança, ele só diz que não basta ser circuncidado, tem de andar como Abraão andou. Abraão creu sem Lei e circuncisão. A ideia é trilhar o caminho de Abraão.

A promessa a Abraão veio por meio da justiça da fé (vv. 13-15). A promessa feita a Abraão ocorreu quando ele ainda não havia sido circuncidado. Quando ainda não havia Lei. Foi feita por meio da justiça da fé. Isso quer dizer que, se Abraão cresse na promessa, seria atribuída a ele a justiça da fé. Se a herança fosse recebida pela Lei, a fé seria anulada, e a promessa cancelada.

O que é a promessa? Podemos responder de duas maneiras. É o filho de Abraão, Isaque, e nas palavras de Cranfield: “É a promessa da restauração definitiva, para Abraão e a sua descendência espiritual, da herança do homem (cf. Gn 1.27, 28), que foi perdida pelo pecado”.

A Lei suscita a ira porque o homem é incapaz de cumprir a Lei. Não há como ser herdeiro da promessa pela Lei. Ela só traz ira pela nossa incapacidade de cumpri-la. O homem precisa de fé para receber a promessa. 

A promessa é segundo a graça (v. 16). Paulo agora vai explicar por que a promessa da justiça da fé que fazia o povo do Senhor receber a herança não era pela Lei. Ela vem da fé para que seja segundo a graça. Assim, a promessa seria tanto para os judeus da aliança da circuncisão (ou judeus cristãos?) quanto para os gentios da fé. Todos devem crer na promessa.

Abraão creu em Deus, que o fez pai de muitas nações e o justificou (v. 17). Abraão significa pai de muitas nações. Abraão creu no Deus que “vivifica os mortos”. A ideia é que Deus reanimou o corpo de Abraão que já era velho para ser pai e fez o mesmo com o de Sara, curando sua esterilidade. Aqui vemos o atributo do poder de Deus. “Chama à existência” é um complemento do Deus que vivifica. É o atributo da fidelidade de Deus. Deus faz a promessa e a cumpre – chama à existência as coisas que não existem. Ainda que aos nossos olhos não haja possibilidade.

Abraão esperou contra a esperança (v. 18). A fé de Abraão esperava na promessa de Deus contra toda esperança humana que é baseada no que se vê. Assim, ele se tornou pai de muitas nações pela promessa. Abraão “esperou”. Isso quer dizer que a sua fé estava na promessa de Deus. Não somente na promessa, mas no Deus poderoso e fiel que acabamos de mencionar. “Contra toda esperança” significa contra toda esperança humana.

Abraão não enfraqueceu na fé (v. 19). Os fatos reais poderiam levar Abraão ao enfraquecimento da fé. Noventa e nove anos e sua mulher estéril. Contudo, ele não levou em conta isso. Ele não enfraqueceu na fé. Ao contrário, permaneceu firme e com fé na promessa de Deus. Abraão não duvidou (vv. 20,21). Onde estava a fé de Abraão? Ele poderia ter duvidado da promessa se olhasse apenas para as circunstâncias. Mas ele olhou para a promessa e, pela fé na promessa, fortaleceu-se. Assim, deu glória a Deus porque se firmou em Deus. A fé de Abraão estava em Deus, não somente no que fora prometido.

Abraão recebeu a justiça da fé (v. 22). Deus levou em conta a fé de Abraão, e ele recebeu a justiça da fé. A justiça foi atribuída a Abraão não por causa dele (v. 23). Abraão não era somente um homem para ser lembrado, mas um modelo para os que creem. Do mesmo modo que a fé para a justificação foi atribuída a Abraão, será atribuída aos que crerem.

A justiça foi atribuída a ele como modelo para que creiamos em Deus que nos justificou em Jesus (v. 24). Se tivermos a fé de Abraão seremos justificados pela justiça de Deus, a justiça da fé. A fé que precisamos é a fé em Jesus Cristo.

Abraão creu em Deus, que lhe fez uma promessa. Nós cremos em Deus, que nos deu A PROMESSA, Jesus, que ressuscitou dentre os mortos. Aqui vemos claramente os mesmos atributos da história de Abraão: poder e fidelidade. 

A obra de Cristo é para nossa justificação (v. 25). No versículo 25, Paulo tem em mente Isaías 52.13–53.12. Ele termina apontando para a obra de Jesus. Primeiro na cruz, quando foi entregue por causa das nossas transgressões. Depois na ressurreição, quando ressuscitou para a nossa justificação.

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